terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A process in the weather of the heart



vem uma mudança no tempo do coração

secar a sua seiva, e um brilho que nos fere

vibra no interior glacial do túmulo.

transforma-se na cidade das veias

a noite em dia, e movem-se ali os vermes

sob o reflexo solar do próprio sangue.

vem uma mudança ocultar nos olhos

os ossos da cegueira, e então o ventre

mergulha na morte como o aparecimento da vida.

a escuridão no tempo dos olhos

encontra-se com a luz;

(...)o tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos

fica húmido e seco; o que desperta e o que morre

junto dos olhos são como dois espíritos.

vem uma mudança no tempo do mundo

transformar um espírito no outro,

e cada criança

na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.

assim é arrastada a lua em direcção ao sol,

da pele são removidas as andrajosas vestes,

e o coração abandona-se à morte.


['a mão ao assinar este papel', assírio & alvim, 2ª ed, 1998, pág. 18]

dylan thomas

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