vem uma mudança no tempo do coração
secar a sua seiva, e um brilho que nos fere
vibra no interior glacial do túmulo.
transforma-se na cidade das veias
a noite em dia, e movem-se ali os vermes
sob o reflexo solar do próprio sangue.
vem uma mudança ocultar nos olhos
os ossos da cegueira, e então o ventre
mergulha na morte como o aparecimento da vida.
a escuridão no tempo dos olhos
encontra-se com a luz;
(...)o tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos
fica húmido e seco; o que desperta e o que morre
junto dos olhos são como dois espíritos.
vem uma mudança no tempo do mundo
transformar um espírito no outro,
e cada criança
na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.
assim é arrastada a lua em direcção ao sol,
da pele são removidas as andrajosas vestes,
e o coração abandona-se à morte.
['a mão ao assinar este papel', assírio & alvim, 2ª ed, 1998, pág. 18]
dylan thomas
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