terça-feira, 27 de abril de 2010

...




abraça-me, cala-me, faz-me desaparecer.
...
não sentes como me sinto? quase a enlouquecer. cheia de medo de amar, tanto medo, mete tanto medo o amor. e depois, imagina tu, o que pode acontecer. não acontecer nada. é demasiado perigoso, imprevisível, impossível de controlar, deve ser morto logo que apareça...
a vida é sempre a mesma e diferente. a náusea, sabes o que é? se quiseres podes ir ver ao dicionário. mas não vais saber. já disse, não vale a pena dizer outra vez. amo-te muito. não te quero ver. para quê? não me lixes, merda. acaba com isto que eu não aguento mais. abraça-me e cala-me com a tua boca sobre a minha. já, que eu não aguento mais.


Pedro Paixão

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit




Alguém me disse!?


o tempo corre
e eu corro nele...
no tempo que é teu
até que pare...


é na tua voz
que
renasce o meu sentir sempre...

I believe...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Amor




o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.

hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"

Waiting for the sun...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ausência



Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o amor antigo, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade


o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida.
era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.


José Luís Peixoto