que este nome é muito parecido com uma alcunha com que um grupo de amigas me baptizou, na
minha fértil adolescência, devido ao famoso jogo Tetris: Papo ou nos bons dias, papinho! Mas
desta vez uma coisa não anda directamente relacionada com a outra mas não posso abdicar de
sorrir à surpreendente coincidência.
Paphos é o santuário de Afrodite, uma cidade no Chipre, esse sagrado templo onde tive o acaso
de me deparar sem precisar de sair do sítio. E já que Afrodite ( descobri em alguém a
humanização da Deusa) entrou no meu reinado nessa noite dediquei-lhe este capítulo.
Invertendo aos desenvolvimentos daquela noite. Suponho que ainda se recordam de como tudo
começou e não valerá a pena cair na repetição. Além do mais a palavra repetição será parte
integrante desta “estória de amor transcendente” . Quem no final não acreditar na
transcendência dela terei todo o prazer em marcar um encontro “mano a mano” para darmos
como encerrada a descrença em algo tão olímpico.
Ainda antes de sairmos para o restaurante, e após aquele primeiro contacto com quem arrebatou
a minha alma com um simples gesto, divergimos os nossos corpos para o apartamento do
aniversariante. A ideia era confraternizar um pouco antes do jantar visto que a maior parte das
criaturas não se conhecia. E lá estava ela no meio de nós. Aquela criatura singela, pura, colorida,
arrebatadora, de sorriso aberto, bela nas mais diversas formas, confinava-me todos os sentidos.
Só me apetecia estar a seu lado, isolando-nos do resto do Universo, esquecendo todos os outros
seres presentes. Era isso que fazia em mim e para mim. Eu não passava agora de uma
adolescente envergonhada que levantava a voz e procurava protagonismo para que aqueles
olhos me agarrassem outra vez. A verdade é que não fui mais capaz de lhe largar as asas de anjo
que brilhavam nas suas costas debruadas a ouro pela espuma do mar. Repetia-me
incessantemente no silêncio gritante da minha alma: “ Quero quedar-me aí! Não desapareças um
segundo sequer agora que ressuscitas-te a minha vida. Fica comigo esta e todas a noites. Os dias.
As semanas. Os meses. Os anos. Percorre comigo de mãos dadas a eternidade. Quero-te aqui e
agora. Não posso mais viver sem ti. Não quero a minha existência mundana sem a tua. Ouve-
me…”
Quando saímos de casa eu era um misto de energia transbordante e de desejo descarado.
Éramos cerca de trinta num restaurante de pinta familiar e informal. As mesas estavam postas
com bom gosto, simples, elegantes e carismáticas a fazer jus à cerimónia em causa. Flores,
pedras de vários feitios, velas, adornavam o repasto que para mim seria o mais afortunado dos
felizes até à data.
As pessoas conhecidas começaram a sentar-se em grupos, lembro-me que ela mal conhecia
alguém. Sentia-se até um pouco desfasada. Eu, apesar de conhecer, mantinha-me sentada ao
lado da pessoa que ocupara a minha vida até então.
Quis o acaso que ela se sentasse em frente a mim. E com sorte numa posição em que eu a podia
observar com os meus olhos ávidos sem ela reparar. Por vezes acho que não foi assim tão anjo
como parecia nesta situação específica. Ou isso, ou Zeus tinha metido uma pequena cunha por
mim. Seja como for, a noite já era minha e era com ela que a queria partilhar querendo dividir
tudo.
Ali estava. Sentia o meu corpo a estremecer, as mãos suadas, os olhos vidrados, o coração a
querer-me fugir pela boca. Um medo completamente disfarçado que não queria que a minha
companhia nota-se a minha tão real inquietação.
Mas ela era tão forte e eu tornava-me tão criança nos meus trinta anos de existência. Qualquer
um atento repararia. A minha companhia, sempre atenta, reparou mas eu neguei. Neguei porque
nem sabia como explicar o que me estava a suceder naquela fase, visto por todos como quase
perfeita, da minha vida. Mas não há como negar o coração e esse, mesmo mentindo eu da boca
para fora, não vai em falsas afirmações mesmo que segueres uma bíblia.
Ela tinha chegado. Estava ali para ficar guardada para sempre em mim.
1 comentário:
Tua narrativa prende-me deveras. Sinto tua alegria e excitação, tua avidez e tua ânsia. Os amores nos tiram o fôlego, tal como as palavras bem escritas. =)
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