terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quero escrever o borrão vermelho do sangue





Quero escrever o borrão vermelho de sangue

com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro.

quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez.

que não me entendam pouco-se-me-dá.

nada tenho a perder.

jogo tudo na violência que sempre me povoou,

o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu,

por falso respeito humano, não dei.

mas aqui vai o meu berro

me rasgando as profundas entranhas

de onde brota o estertor ambicionado.

quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito.

o clímax de minha vida será a morte.




clarice lispector

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