domingo, 18 de outubro de 2009





É tarde meu amor
estou longe de ti com o tempo,
diluíste-te nas veias das marés,
na saliva do meu corpo sofrido
agora, tuas máquinas trituram-me, cospem-me,
interrompem o sono
habito longe, no coração vivo das areias,
no cuspo límpido dos corais...
e no ventre impossível das cidades nocturnas
a solidão tem dias mais cruéis.

tentei ser teu, amar-te e amar o falso ouro...
quis ser grande e morrer contigo
enfeitar-me com tuas luas brancas,
pratear a voz em tuas águas de seda...
cantar-te os gestos com ternura
mas não

águas, águas inquinadas pulsando dentro do meu corpo,
como um peixe ferido, louco
em mim na lama... e o visco inocente dos teus náufragos
sem nome-de-rua,
nem estátua-de-jardim-público
aceito o desafio do teu desdém

na boca ficou-me um gosto a salmoura e destruição
apenas possuo o corpo magoado destas poucas palavras
tristes que te cantam

Al Berto in Wordsong