quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
estejas onde estiveres...
independentemente da latitude...
não querendo saber da longitude ou
em que meridiano te encontras...
nem se algum dos trópicos
ou outro algo
ou outro alguém
te segura a mão...
estando tu, geograficamente
perto ou distante,
entre vales e praias
ou entre desertos e montanhas,
é a ti...
é para ti
e a pensar em ti
que deixo tocar esta canção...
Feliz 2010 capuchinho...
que seja o início de uma vida muito feliz
e de sonhos encontrados e realizados...
Estás dentro de mim...
QUE SE QUEBRE O ENGUIÇO DE 2009!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais
revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança osdependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo.
recusava-me a abrir a janela, a transpor o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que
nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro
por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida.
às vezes penso encontrá-lo num bater de asas,
num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon.
escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo.
depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para
uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar,
as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio,
eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra
e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
( Mão Morta )
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
"sinto-me cansada de ler os meus actos desfigurados pelo teu pensamento.
caminhamos juntos e falo-te como se a verdade do que sinto
fosse a minha nudez.
o que acontece é que as pessoas não desejam nenhuma verdade.
utilizam as palavras para se protegerem do sofrimento e da fraqueza
que as impede de chegarem a um fim.
e ficam tão fracas em tudo o que dizem, que o que dizem
é um resto das suas vidas a
decompor-se no tempo."
Fernando Esteves Pinto - escrita ibérica
caminhamos juntos e falo-te como se a verdade do que sinto
fosse a minha nudez.
o que acontece é que as pessoas não desejam nenhuma verdade.
utilizam as palavras para se protegerem do sofrimento e da fraqueza
que as impede de chegarem a um fim.
e ficam tão fracas em tudo o que dizem, que o que dizem
é um resto das suas vidas a
decompor-se no tempo."
Fernando Esteves Pinto - escrita ibérica
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Feliz Natal para todos
(e uma rosa vermelha, lembrando a nossa neve, apenas para ti meu amor...)
entremos, apressados, friorentos,numa gruta,
no bojo de um navio,num presépio, num prédio,
num presídio,no prédio que amanhã for demolido…
entremos, inseguros, mas entremos.
entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
entremos, dois a dois: somos duzentos,duzentos mil, doze milhões de nada.
procuremos o rastro de uma casa,a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
entremos, despojados, mas entremos.
de mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
falemos de coisas concretas:
as cidades devoram-nos.
são feitas com a carne e o sangue dos homens.
a pedra é o pretexto para que resistir
seja apenas uma questão de tempo.
eu abro a minha janela e vomito na rua.
ah! Desculpa irmão que passas com uma flor
distraída e uma mulher apaixonada pela mão.
eu estou cansado de afogar anjos na retrete.
atalham-se caminhos no peito dos incautose a máquina roda pela mão dos mais audazes.
no entanto, a coragem tem a cor de uma gravata
e pagamos a vida como qualquer imposto.
o amor dói como um sorriso
que anula todas as respostas.
os tecnocratas barbeiam-se como se fossem deuses.
e cagam-se como se fossem homens.
joaquim pessoa
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!
Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.
Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.
David Mourão-Ferreira
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
"I guarantee that we'll have tough times. I guarantee
that at some point one or both of
us will want to get out. But I also guarantee that if I
don't ask you to be mine, I'll
regret it for the rest of my life. Because I know in my heart
you're the only one for me".
Do filme - Runaway Bride
( will it be possible to have it all again!?)
"I think that sometimes we love people so much that
we become numb to it.
Because if we actually felt how much we really loved them,
it would kill us.
That doesn't make you a bad person, it just means
your heart is too big."
( just Numb...)
Do filme - Riding In Cars With Boys.
Do filme - Riding In Cars With Boys.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
não suporto mais seguir-te no teu labirinto. sinto-me tão pequena.
há uma mosca pousada no tecto. sinto-me enlouquecer.
disseste-me ainda que as carícias não atravessam a pele. sacrificas-me.
deixei-te por duas vezes, voltei duas vezes.
estás em mim como uma ferida. não devia ter vindo. não nos entendemos.
o nosso desejo, o nosso prazer são dolorosos.
fazes-me mal e pedes-me para não gritar. ainda ousas dizer que te pertenço.
desintegro-me nos teus braços, disformo-me. bebo aguardentes que me queimam.
começo a odiar-te. há um polvo morto sobre o mármore da cozinha.
continuo ao mesmo tempo a amar-te desmedidamente.
Pedro Paixão
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Não me ames tanto, meu amor, não me inventes, não me cries,
não me ames por aquilo que eu não sou. porque eu não sou só silêncios estrelados,
não sou apenas raivas ou sonhosdesperdiçados. eu tenho em mim o silêncio mais
fundo de todos os vazios. eu tenho medo, meu amor, medo de ficar para sempre
rasgada, medo de não conseguir ser o que sou, medo de ser para sempre o que não
sou. eu tenho medo, meu amor. porque eu não sei sequer porque te chamo meu
amor. porque eu de ti nada sei e muito menos de mim. porque eu estou perdida. e
continuo a viver como sonâmbula. e tenho que te dizer tudo isto. porque quero
que o saibas, sem saber se me podes valer. é que eu renunciei a mim própria.
renunciei às minhas convicções, aos meus ideais, às minhas leis mais íntimas. e
não sei como te explicar que isso me projectou na mais pavorosa cambalhota no
vazio. estou-me nas tintas para o pudor. quero que conheças as minhas chagas, as
minhas mortes, todas as minhas mortes que eu própria consenti e assinei em
papel selado. e não é para que me digas "não é tanto assim". não é para me
sorrires, me escorreres os dedos pela face, para me dizeres "a tua morte é uma
farsa". vou ter a coragem meia louca de te dizer que me sinto miserável, que a
minha alma está servil, que deseja no fundo aniquilar-se, desaparecer noutra
consciência, escapar ao peso de se suster a si própria. é perigoso dizer isto. mas é
verdade. terrivelmente verdade. perdi as minhas intuições e a magia especial que
tinha para a vida. afastei-me de tudo o que amo e entendo. até que ponto a minha
alma por demasiado profunda e profundamente modificada me pode aniquilar
para sempre? por isso te digo como job, "retira-te de mim porque os meus dias
não são mais do que um sopro". e te peço: não me cantes o teu amor tão
desaustinadamente porque me fascinas, me entonteces. é a conquista de mim que
preciso fazer. para isso necessito de viver. estou confusa, interdita, envergonhada,
embora sinta que te estou a dar as mãos, serenamente, como quem chega com o
coração aflito sufocado de segredos. dou-tas como quem beija. como se fossem
nossos todos os bancos de todos os jardins.
Caderno de Exorcismos
Eu não te escrevi nem uma linha desde a última vez, este tempo todo,
não te disse nada, nem um recado te deixei. não era preciso. era preciso até demais....
desde a última vez, desde a última vez, não sei a sério há quanto,
tanta coisa se passou e quase nada,
se formos a ver, sobretudo daquilo que estou à espera que aconteça e não acontece,
nem sei muito bem o quê, mas tem que acontecer, e o mais depressa possível porque de outra maneira não pode ser e estou a começar a ficar aflita,
tu não?
Pedro Paixão
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir.
Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir.
De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
tua presença só é visível nas fotografias dos barcos
as quilhas são a tua memória longínqua das Índias
vai
com os pássaros de bicos exuberantes
e sonha
e estende o corpo cansado nos intervalos da erva fresca
onde alguém costurou pedras brancas na orla das grandes rotas
a cidade espera-te com o cais de madeira
junto ao rio abre as mãos toca nos corpos com os lábios
agarra-os dentro de ti
até que da terra lodosa brotem especiarias
porque só longe daqui acharás o que falta da tua identidade
só longe daqui conhecerás o sangue e talvez a felicidade.
Al Berto
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Parto mais longe, onde não existem máximas, extintas culpas em ouvidos frenéticos ou
monótonos.
Falei-te do absurdo como se fosse uma cor a acrescer aos sentimentos, ou então um dom.
Falei-te das minhas coisas como se fossem tuas.
E falei-te desses lapsos de dúvida que transtornam a maneira de viver.
Falei porque as palavras se trocam, se atiram, se oferecem e se negam com abundância, com uma
rapidez que não altera as pulsações e não necessita do sangue como pressuposto.
Presumia sempre uma diferença, um abismo que as palavras não supõem, não discutem.E o
tempo passou-se.
E o eco renasce-me nos meus dedos.
Não posso escrever-to porque não sei.
Caderno de Exorcismos - Joaquim Pessoa / Fotografia Ralph Gibson
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Este outro que também me habita
talvez proprietário, invasor,quem sabe o exilado neste corpo
estranho ou de ambos,
este outro a quem temo e ignoro, felino ou anjo,
este outro que está só sempre que estou só,pássaro
ou demónio,esta sombra de pedra que tem crescido dentro e fora de mim,
eco ou palavra, esta voz que responde quando me perguntam
algo,
o dono de meu enredo, o pessimista e o melancólico e o
emotivamente alegre,
este outro,
também te ama.
Darío Jaramillo Agudello (Poeta Colombiano)
encontrámo-nos no valentino em turim
e viajámos por toda a itália de comboio,
dormindo juntos.
eu não falei em sexo.
disse dormindo juntos.
coisa de que a sexualidade é,e não é, uma parte.
é esse dormir juntos
que é sagrado para mim.
bocejarmos juntos.
podes ter sexo com qualquer pessoa
mas com quem podes dormir?
odeio-te
porque dormiste comigo
e me deixaste.
Paul Durcan - Felicity in Turin
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
o momento da decisão é um momento de impiedade. escolhemos aquilo que é bom para nós, e os outros que se aguentem. há com certeza excepções altruístas, ocasionais ou reincidentes, mas em geral é cada um por si. a nossa decisão muitas vezes não tem mal nenhum, o mundo continua todo exactamente como dantes, fica tudo esquecido num instante. mas há decisões que afectam toda a vida de terceiros, de alto e baixo, e durante anos. quem dispõe com impiedade da vida dos outros está no seu legítimo direito, mas também ter que ser homenzinho (ou mulherzinha) suficiente para aguentar o embate. não falo de vinganças, que é coisa que detesto, ou de ressentimentos, que talvez sejam ainda piores que a vingança; o que eu digo é que quem dá uma navalhada tem de estar disposto a conviver com a cicatriz na cara de quem esfaqueou. seria grotesco que protestasse contra a cicatriz, por inestética e ofensiva, quando segurou a arma branca que rasgou o rosto alheio. a impiedade da decisão tem de ser obrigada a conviver com a impiedade dos resultados da decisão. é um espectáculo lamentável? ah, só reparaste agora?
Pedro Mexia
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
tinhas razão, toda a razão, razão antes de tempo, razão tantos anos antes. viste
numa fraqueza um desastre, escolheste os adjectivos que se iam tornar substantivos,
e disseste que a vida não estava do meu lado. e foi então que me apresentaste a morte,
apenas para que eu falasse com alguém enquanto tu viravas costas.
Pedro Mexia
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
tinha-te a ti, tinha-te a ti e tinha paz.
num pais que era ainda sonho,
onde a tristeza não tinha lugar,
pois era uma canção que eu não te ouvia cantar...
tenho-te a ti, tenho-te aqui, nesta canção.
agora sou só saudade,
e ás vezes quanto tendo a desistir, do jogo da cidade,
encosto-me ao teu ombro...
que hoje é parte de mim.
Letra de JP Simões
I can give it all on the first date
I don't have to exist outside this place
And dear know that I can change
But if stars,
shouldn't shine
by the very first time
Then dear it's fine,
so fine by me
'Cos we can give it time
So much time...
with me
I can draw the line on the first date
I'll let you cross it
Let you take every line
I've got
When the time gets late
The xx
corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te porque parto
porque amo
ouvir-te perguntar quem fala ?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer
como quando me tocaste a testa e eu não pude reconhecer-te
apesar de tudo senti a mão sabia que era a tua mão
mas não podia reconhecer-te
sim
correr a cidade procurar-te mesmo que me afastasses
mesmo que nem me olhasses
mesmo que me dissesses coisas que me
mesmo que
e ter a certeza de que serias tu depois a procurar-me.
Al Berto
será isto o amor...
conta-me outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
que ela não lhe foi infiel,
que a ele nem sequer
lhe ocorreu enganá-la.
e não te esqueças de que,
apesar do tempo e dos problemas,
continuaram beijando-se cada noite.
conta-mo mil vezes por favor:
é a história mais bela que conheço.
Amalia Bautista in O coração dos poetas
sábado, 14 de novembro de 2009
...quando damos tudo, como no poema de yeats («never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena.
Pedro Mexia
há dias, sabes, em que gostava de ser como o gato e que me tocasses sem desejar encontrar quaisquer sentimentos a não ser o que se exprime num espreguiçar muito lento - um vago agradecimento? - e que depois me deixasses deitada no sofá sem que nada pudesses levar da minha alma, pois nem saberias o que dela roubar.
Pedro Paixão
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luis Peixoto
Detesto a inocência. a inocência fingida. odeio todos aqueles que se resguardam na inocência para poupar a tristeza dos outros. detesto-te quando queres fugir ao julgamento de tudo o que sentem por ti. nunca estamos sós. pensa nisso, nunca estamos a sós com a nossa vida. existem sempre os outros, o sentimento deles a construir vedações à volta do que sentimos também por eles. há uma troca de vidas, palavras que não são margens nem são pontes; palavras que são tudo o que nos resta para morrermos. lê o que eu escrevo. não sei onde vou buscar tudo isto, não sei. e se eu te disser que o sofrimento é uma atracção daqueles seres profundos onde não os atingimos nem a gritar? temo que sejas uma criatura assim. alimentas-te do teu próprio eco. muitas vezes agi de cabeça quente de criança a desmontar peças existenciais porque não sei onde começa o humano e acaba a monstruosidade do que sinto pelo mundo das pessoas. não acredito em inocências. não há farsa maior e bem construída que os sentimentos que se ocultam numa verdade inocentemente fingida. se eu te dissesse tudo o que sinto, tudo a respeito da tua inocência, teria de me destruir para dar um sentido à minha honestidade. os humanos vivem no subconsciente das suas próprias verdades, e tudo o que expõem de positivo são ruínas que se erguem debaixo dos nossos dias.
Fernando Esteves Pinto
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
O que dói às Aves
E chega um dia em que reconhecemos
finalmente
a injustiça das palavras -
exactamente as mesmas
para quem vai e para quem fica
um dia
em que não há mais passado para contar
nem mais futuro para viver
apenas uma velha cantiga de embalar
uma casa desaparecida
e este limbo ocasional
onde o corpo
espera que anoiteça.
Alice Vieira
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Ouve! Saberás, por ventura, que todas as palavras
nasceram para ti?
E que enquanto aqui te espero acordada
enquanto de amordaço a boca
de cuspe meu e faço dele um oceano livre de sal.
Apenas estrelas
de pescoço esticado em direcção ao céu.
Se esta casa ainda é minha,
se esta combustão ainda me pertence
quando os teus lábios dizem:
"O segredo está morto ao acordar,
mas se acordo junto a ti como podes isso ser?..."
Como poderá um nome ser tão extenso
quanto o areal da praia em que nos beijamos pela primeira vez?
Primeiro estudei o caminho,
aprendi as curvas e as lombas;
depois fiz por esquecê-lo;
amarrotei os papéis e as cartas,
queimei todos os fósforos numa perfeita metáfora
da imagem das vírgulas
que pontuo como asteriscos no teu corpo,
papel em branco manchado pelas minhas mãos...
E nestas mãos já não cabem pedaços de versos
ou trechos de poemas.
São dedos apenas os que te seguram.
Como trepadeiras mágicas, os dedos procuram,
a tua altura não é do tamanho do que vês.
É maior. Nasce no magma do centro da Terra e cresce até à minha boca,
onde te desfaço em pedaços.
Páro, agora,
para te dizer que te amo,
e porque eu fecho,assim, tão simplesmente,
as palavras junto a mim....
Amanda, Ana Sofia, Constança e Cristina in "Karaoke"
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
O meu coração inflamado é do tamanho da explosão de Hiroshima.
Se houvesse um rumor de vidro que estala nos meus dedos....
Tiro a mordaça!
Do avesso seguro as palavras que nunca me dizes
como se de um silêncio de ferrugem se tratasse.
Mas nenhum silêncio reduziria a acidez dos suspiros, que,
a medo, abandonas ao longo do meu corpo.
Sabes que a luz é dissonante e quando as mãos se cruzam
nas calçadas,por momentos perdidas,
o calor rouba-me a tua voz
e já não sei proferir o teu nome,
pois a combustão de Agosto faz de mim uma trouxa de cinza.
E, mesmo assim, quero que o Outono se demore o mais possível
e que Dezembro se incendeie para depois, ternamente,
recolher os estilhaços,
fragmentos de uma vida
que julgava sarada por ti...
Mas agora, já nada disso importa.
Estou de pé,
tenho tempo!
Amanda, Ana Sofia, Constança, Cristina in " Karaoke"
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
"Mais uma noite, amor. Ao recordar-te
retomo os fins do mundo, a cinza, os dias
manchados de outras lágrimas. Sabias
como eu a cor das sombras, essa arte
que nos engana agora e se reparte
por esquinas e cafés. Já não me guias
os muitos passos vãos, as fantasias
da minha falsa vida. Vou deixar-te
fugindo-me. Na chuva, sem ninguém,
apenas alguns vultos, o que vem
«e dói não sei porquê» -este deserto
onde te vejo, imagem outra vez,
até de madrugada. O que me fez
sentir o muito longe aqui tão perto?"
Fernando Pinto do Amaral in A Escada de Jacob
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